quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Pegação em João Pessoa: construção de uma cartografia

[este texto é um fragmento editado do relatório final de pesquisa de Iniciação Científica que apresentei à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba em agosto de 2013, a respeito da minha pesquisa sobre práticas sexuais dissidentes e movimento LGBT na Paraíba, onde apresentei uma etnografia sobre a pegação no perímetro urbano da cidade]

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A cartografia da cidade começa a desenhar-se desde seu início-fim. Já no terminal rodoviário de João Pessoal é possível observar a existência de locais - remodelados a partir do uso que seus frequentadores lhes dão - para trocas entre homens. Não raramente, no ir e vir de passageiros, no ritmo frenético de partidas e chegadas, homens nos mictórios do banheiro do terminal trocam fluídos, olhares e apertões. Estabelece-se aí um jogo de silêncios e não-ditos, um desvio de linguagem comum para um novo conjunto de códigos, uma forma variante de expressar-se. Pernas arqueadas, olhos atentos aos lados e a pia e seu espelho, localizados mais a frente; movimentos que, aquém da cotidianidade de uma urinada passageira, quando lidos em conjunto e contexto revelam estratégias do desejo, (in)convenções. Ali mesmo aproximam-se e conectam-se por meio do olhar, dos gestos; negociam e avaliam a possibilidade de uma troca que poucos instantes depois irá se converter em sexo, fluídos e cheiros. Há alguns anos, além dos banheiros, o piso superior do terminal, onde os acompanhantes e curiosos vislumbram o movimento dos passageiros, por muito tempo sediou também as trocas e encontros entre homens. 

A região do centro é recortada por uma variedade de espaços destinados à pegação, sejam os mais tradicionais, instituídos no imaginário dos frequentadores - como os cinemas pornôs e as saunas, localizados na região do Varadouro -, sejam outros menos conhecidos e de caráter efêmero; esses últimos, em geral, são estabelecidos a partir de encontros fortuitos entre usuários de outros espaços de troca já tradicionais, como acontece, por exemplo, na subida do terminal rodoviário em direção à Lagoa do parque Solón de Lucena, nas imediações do Theatro Santa Roza, um dos estabelecimentos culturais mais antigos e prestigiados da cidade, e que é constantemente utilizado como espaço liminar entre os frequentadores do Cine Sex América, localizado ao lado. É lá que se conhecem, vez por outra flertam ou aguardam até que o trânsito na praça reduza para entrarem. Na região atrás do teatro ainda encontram-se relativamente próximos uma sauna e outros dois cinemas pornôs, além de algumas pousadas de baixo custo, onde pode é possível ficar a custo de menos de quinze reais por duas horas. 

O Cine Sex América se localiza na Praça Pedro Américo, ao lado do Teatro Santa Rosa e frente ao atual prédio onde funciona o gabinete do prefeito e outras secretarias de Estado. Em se tratando de cinemas pornôs, é o mais antigo em funcionamento na cidade, estando em atividade desde o início de 2004 e é propriedade do grupo pernambucano Ferreira, que tem outros espaços de exibição do gênero na cidade do Recife. O processo de construção e manutenção social do cinema está relacionado a um processo adverso, de declínio dos cinemas de rua. Em João Pessoa, o Cine Sex América se consolidou na contramão de um processo de falência registrado pelos três cinemas então em funcionamento na capital, o Rex, o Plaza e o Municipal. Enquanto o primeiro transferiu-se para um shopping, onde atualmente estão localizados todos os cinemas da capital, os demais foram “decaindo”, transformando-se primeiramente em salas de exibição de filmes eróticos e pornôs, para em seguida fecharem, dando espaço a outros tipos de empreendimento, notoriamente uma loja de calçados e uma Igreja protestante pentecostal. O ar de legalidade e regularidade no funcionamento do cinema é exposto com certo grau de distinção por seus proprietários, quando comparado aos demais cinemas em funcionamento: o Papai Cine Video e o Cine Sex Aquarius. 

O Papai Cine Video foi inaugurado em meados de 2006 e está localizado na Rua Cardoso Vieira, rua atrás do Teatro Santa Rosa e, portanto, bem próximo do Cine Sex América. É o maior dos cinemas em funcionamento e tem um público tão grande quanto o América. Sua estrutura física é composta de cinco salas de exibição que reproduzem simultaneamente e durante todo o dia filmes pornográficos de classes diversas: heterossexuais, gays, bissexuais e lésbicos. As superfícies de projeção variam de grandes telas a pequenos aparelhos de televisão ancorados nas paredes. Atualmente constitui-se como uma rede administrada pelos senhores Carlos, Ari e Edvaldo e que conta com filiais nas capitais de outros dois estados, além da Paraíba: Rio Grande do Norte (inaugurado em 2010), Teresina (inaugurado em 2008). Diferente do América e outros cinemas onde ocorrem pegação, tais como o etnografado por Vale (2000), o Papai, assim como seu vizinho, o Aquarius, não é um cinema propriamente dito. Trata-se de um antigo casarão art deco, como muitos dos prédios antigos na região, que foi improvisado para atender às necessidades do negócio. O prédio pode ser dividido em duas grandes áreas divididas por uma área para fumantes. Na primeira metade do cinema estão localizadas a bilheteria e o primeiro conjunto de salas de exibição. Logo ao atravessar a bilheteria, o usuário é confrontado com um negrume intenso. Exceto pelas luzes negras e pelo brilho da projeção não há iluminação interna. Logo à entrada estão localizadas um conjunto de três cabines individuais onde os caçadores podem masturbar-se enquanto assistem os filmes por pequenas aberturas. Em seguida à esquerda e à direita dividem-se as primeiras salas de exibição, que reproduzem respectivamente filmes de temática heterossexual e lésbicos. Em seguida, cada uma das salas dá acesso a outras, que se encontram no final com uma pequena abertura de pouco mais de um metro de largura que conecta as terceira e quarta salas de exibição, onde se apresentam, respectivamente, filmes como temática bissexual e pornografia bizarra (animais, pessoas com algum tipo de deficiência física, ou que têm seus corpos potencializados para determinadas atividades sexuais envolvendo perigo extremo). Segue-se então uma pequena área de fumantes e banheiro, que dá acesso ao segundo bloco do prédio onde se localiza a salas de exibição de filmes com temática gay, além de outras duas cabines privativas para casal e um underground onde, ao pagar um valor adicional, pode-se alugar o espaço por algumas horas para relações sexuais mais elaboradas.

Em conversas com os clientes, um dos aspectos que o coloca entre os mais conhecidos e frequentados é a discrição. Contraditoriamente, o cinema está localizado em uma avenida de alto fluxo de veículos durante uma parte significativa do dia; além disso, frente à entrada se localiza um ponto de ônibus, onde muitas pessoas esperam pela chegada de conduções que levam aos bairros da zona leste e oeste, região onde estão concentrada boa parte dos bairros populares e mais distantes da cidade. Frequentemente pude observar caçadores que, ao saírem do cinema, optavam por tomar a condução em outros pontos de ônibus, evitando assim encontrarem-se novamente com outros caçadores que haviam encontrado há pouco, no interior do cinema.

Por fim, o Cine Sex Aquarius é a filial de um cinema pornô de mesmo nome que tem sede no interior do estado, na cidade de Campina Grande. O Aquarius é o mais recente dos cinemas, tendo sido fundado em 2008. Tem um público consideravelmente menor, em relação aos demais, todavia é reconhecido como um dos melhores, justamente pela localização e discrição. Está localizado também na Avenida Cardoso Vieira, há poucos metros do Papai e uma rua atrás do América. Todavia, nada lhe chama a atenção dos caminhantes à rua. Uma fachada preta onde se desenha uma espécie de túnel negro com um pequeno aviso impresso em papel tamanho A4 indicando os valores e solicitando que os usuários não fiquem parados à porta. Em relação aos cartazes de sexo explícito colados à porta de entrada tanto no Papai quanto no América, o Aquarius é um equipamento modesto. Exibe dois filmes semanalmente, que são repetidos durante o dia em duas salas de exibição.


Fotos das fachadas antigas do Papai e do América, no centro de João Pessoa. 
Fotos retiradas daqui e daqui.


Continuando o percurso é possível encontrar ainda outros espaços para pegação na região do Parque Solón de Lucena, seja à noite, na região dos bambuzais que desenham os quiosques e bares do parque, onde os homens costumam masturbar-se eventualmente com a presença de outros, seja, mais uma vez, nos banheiros públicos dos shoppings comerciais e populares, ou de grandes mercados, a exemplo do Hiper Bompreço, um point já tradicional e de relativo prestígio, por onde muitos caçadores já passaram ou costumam frequentar. 

 Os pontos de pegação apresentam uma dinâmica elástica, o que favoreceu a sua permanência através de um dispositivo de constante atualização. Assim, espaços novos podem aparecer constantemente e serem frequentados por um número relativamente grande de pessoas e em breve, desaparecer. São processos contínuos e multiplicadores, apesar de efêmeros. A dinâmica social da pegação acompanhou o novo traçado urbanístico da cidade, não apenas em direção à praia, região onde hoje localizam-se a maioria dos pontos de pegação conhecidos e já famosos na cidade, como também acompanhou o desenvolvimento de certos bairros nas regiões mais afastadas do centro, como os bairros de Bancários, Mangabeira, Valentina, Cristo Redentor e Geisel, que posteriormente culminaram no desenvolvimento de um pequena mancha de espaços comerciais GLS, ou na consagração de alguns espaços como pedaços de sociabilidade entre homossexuais.

A cidade não é composta por um aglomerado de pontos distribuídos pelo espaço e desconectados entre si. Não apenas estão localizados numa certa historicidade, que remete, muitas vezes, à necessidade de espaços formalmente destinados e projetados para encontros com caráter homossocial, como também são constantemente reorganizados e articulados pelos frequentadores nos seus trânsitos e circulação. Tais espaços funcionam também de forma suplementar a outros equipamentos, como cabarés e pousadas, espaços com funcionalidades muito próximas e que remetem a regimes e usos do corpo e da sexualidade que dialogam entre si. Homens idosos costumam frequentar simultaneamente Rua da Areia, em busca de contatos com profissionais do sexo, bem como rapazes jovens e dispostos a sexo em troca de algum tipo de retorno (financeiro ou material).

A configuração de espaços de sociabilidade ao longo da paisagem não se configura de modo homogêneo. É possível afirmar, com base nos dados etnográficos, que desde a região do terminal Rodoviário no extremo oeste da cidade até os pontos de pegação que se apresentam na praia desenvolvem um contínuo que caracteriza as formas de interação, frequentadores e também as modalidades de práticas em cada espacialidade.

Na figura abaixo é possível visualizar a distribuição dos espaços de pegação na região do centro de João Pessoa.

Os espaços que investiguei se configuram como uma paisagem predominantemente popular: trabalhadores de regiões próximas, além de moradores de ruas e senhores idosos configuram a maior parte dos usuários desses lugares. Os tipos que fogem a este padrão em geral são aqueles que fetichizam relações sexuais com pessoas mais pobres, relacionando o desempenho sexual com algum vestígio de “animalidade” dos homens das classes populares e/ou negros, sexualmente mais vorazes e dispostos sexualmente. Esses outros desejosos constantemente pertencem a outras classes sociais, são mais velhos e vem de outras regiões da cidade, dos bairros de classe média ou média alta. As relações entre esses sujeitos distintos também assumem características bem particulares, que serão problematizadas mais a frente.

O processo de construção e estabelecimento de um circuito pegação na região do centro em João Pessoa está relacionado também ao próprio crescimento urbanístico da cidade, a partir da década de 1970. A região da praia, antes utilizada apenas como um espaço de veraneio começou a ser conectada com a região do centro e dos bairros tradicionais nos quatro sentidos (Jaguaribe a leste, Varadouro a Oeste, Tambiá a norte e Torre e Castelo branco a sul) com a construção da Avenida Epitácio Pessoa (Souza, 2005). Nesse movimento houve então um processo de transferência dos espaços de lazer do centro para a região das praias de Tambaú e Cabo Branco. Esse processo atualmente continua agora no sentido horizontal, com a expansão imobiliária e também dos centros de lazer e sociabilidade no sentido dos bairros do Bessa até Seixas e Altiplano Cabo Branco.

Seguindo o sentido da Avenida Epitácio Pessoa em direção a praia observa-se também um processo de diferenciação social entre os grupos e espaços localizados no centro e seus frequentadores. A região contempla dois grandes espaços “oficializados” para a prática da pegação, além de alguns outros que acontecem de forma esporádica. Tais espaços são, o banheiro do Hipermercado Extra, na esquina da avenida Amazona, e os banheiros do Espaço Cultural José Lins do Rêgo, um dos locais mais tradicionais e comumente referido pelos interlocutores de pesquisa. Segundo Roger, 22 anos:
O Espaço Cultural é um dos melhores! Sempre tem gente, e gente nova, se bem que ultimamente tem caído por conta da reforma e das coisas que tem lá... mas ainda assim vale a pena. 

Roger faz referência ao processo de reforma do prédio, especialmente da biblioteca localizada no subsolo do prédio e de algumas outras dependências, como o Cine Banguê, todos localizados na dependência. O Espaço Cultural é um local destinado à realização de feiras, eventos e festas de caráter cultural na cidade. O Espaço sedia além da biblioteca, um teatro de arena, um cinema, um teatro comum, dois mezaninos com vista panorâmica que são utilizados para exposição, a galeria Archid di Picado, o planetário, além de uma enorme área aberta para realização de atividades diversas. O Espaço é administrado pela secretaria de cultura do Estado e nos últimos anos vem sendo utilizado como local para feiras de negócios e eventos de grande porte, mas de caráter comercial, o que, na opinião dos frequentadores da pegação que acontece lá, vem diminuindo a intensidade de visitas. Além disso, as feiras trazem consigo um grande número de funcionários que se distribuem nas tarefas de segurança e higienização de todos os espaços, inclusive de alguns dos banheiros usados prioritariamente, como o que se situa na frente da Galeria Archid di Picado, próximo ao mezanino 1. Assim, tem sobrado aos frequentadores quase sempre contentar-se com o baixo número de gente, quase sempre indesejável, como leigos e funcionários, nos outros banheiros ou no estacionamento, o que é evitado, tendo em vista os riscos à segurança. 

Nenhuma outra região pareceu adequar-se de maneira tão própria a prática da pegação como o litoral, o trecho das praias urbanas, em João Pessoa. Nesses locais pode-se encontrar diversos points que costumam ser frequentados, durante os mais diversos horários por jovens, homens maduros e mais velhos dos mais variados locais da cidade. O desenho desse trajeto do circuito é recortado horizontalmente e estende-se entre os extremos da cidade, da Ponta do Seixas e o lugar comumente conhecido como “Sofá da Hebe” até o extremo norte e a fronteira com a cidade de Cabedelo. Nessa primeira parte do trajeto, que delimita a região do Seixas e Cabo Branco, a região é fortemente caracterizada pela paisagem natural de vegetação de restinga, caracterizada por arbustos baixos, que se emaranham em labirintos por onde se dispersam e novamente se encontram corpos fugidios no jogo de esconder e mostrar-se que se executa na mata do Seixas. A região costuma ser bastante frequentada durante a manhã e tarde e devido ao acesso difícil, não costuma receber pessoas de classes sociais mais baixas, que geralmente não dispõem de carros ou motos para chegar lá. Todavia, a dinâmica deste espaço vem se alterando significativamente nos últimos anos. Essa mudança ocorreu principalmente em função da estrada da região no itinerário turístico da cidade desde 2009, aproximadamente com a inauguração da Estação Cabo Branco Ciência, Cultura e Arte, um empreendimento da prefeitura municipal que não apenas tornou a região que antes era conhecida apenas pelo farol do Cabo Branco - um dos cartões postais da cidade, sendo o extremo leste do continente americano – como também estimulou o crescimento imobiliário na região ao redor.

Se por um lado esse novo fluxo de atividades, serviços e pessoas trouxe também mais facilidades de acesso e permanência na mata, também vem sendo visto como um processo de reacomodação dos antigos grupos de frequentadores. Não raro escuta-se entre as trilhas desenhadas a pegadas e preservativos que, nos últimos tempos, as coisas têm piorado e os assaltos se tornado frequentes por conta desses novos frequentadores. Ainda assim, o que parece haver é mais um processo de advertência e tentativa de reestruturação dos antigos grupos de frequentadores, que não querem perder o seu lugar e manter a forma como ele funcionava no que se refere a público, possibilidades de atividades, horários e outras coisas mais. Perguntando a alguns entrevistados se já haviam sido abordados de forma agressiva ou assaltados todos responderam negativamente, mas ainda assim reiteravam as recomendações para tomar cuidado, e se possível, ir para outro lugar. Ainda na região da praia do Seixas, descendo em sentido à zona norte da cidade, chega-se à Praça de Iemanjá, uma pequena praça adornada ao fundo com uma imagem da orixá Iemanjá que, há alguns anos, era usada pelos pescadores das regiões próximas para reunir-se para pesca. Atualmente, com o fim da tarde, a praça também serve como ponto de encontro entre rapares, geralmente mais velhos e de condição social mais pobre e que não gostam de subir a ladeira para o Seixas. As razões atribuídas frequentemente é o horário, que em geral, por ser durante a manhã, torna-se inacessível aos demais, mas também é registrada a queixa por parte de alguns pela forma como são olhados e muitas vezes ignorados na parte superior.

Em Tambaú, nas imediações do famoso hotel que recebe o nome da praia, também é comum, durante a noite, vislumbrar na parte de trás, já na areia um intenso fluxo de homens, geralmente brancos, de classe média ou que adotam um estilo de vida próximo a isso em termos de roupas, gostos e preferências musicais. Não há muito espaço para a conversa e eventualmente, as relações resumem-se em sexo oral ou masturbações em dupla. Dentre todos os pontos conhecidos no trajeto litorâneo do circuito da pegação, o Hotel, dada sua centralidade, é o único que recebeu ação ostensiva da polícia no sentido de estabelecer uma limpeza da região. As ações da polícia, através da cavalaria consistiam em rondas durante toda a noite na região que compreendia desde o Busto de Tamandaré até o Largo da Gameleira, na divisa entre as praias de Tambaú e Manaíra, sempre passando por trás do hotel a fim de coibir atentados violentos ao pudor e ator libidinosos praticados pelos frequentadores. Entre os usuários mais antigos, a exemplo de Renato que, segundo nos conta, costuma ir ao Hotel desde 2001, aproximadamente, quando chegou à cidade, vindo da região do brejo do estado, algumas pessoas chegaram as ser pegas, levadas à delegacia e moralmente constrangidas. Segundo Renato, essas apreensões aconteciam de forma disciplinar: por mais que houvesse grupos de 10, 20 pessoas, apenas um era levado pela cavalaria pra prestar esclarecimentos.

O trajeto do litoral é fechado então com dois dos pontos mais nobres e frequentados na região: na zona divisória entre as praias de Manaíra e Bessa, próximo ao Mag Shopping, e o final da praia do Bessa, no trecho próximo à praia de Intermares, na fronteira entre os municípios de João Pessoa e Cabedelo. O primeiro trecho é bastante conhecido pela frequência de rapazes que gostam de relacionar-se com homens mais velhos, geralmente “pais de família” que costumam frequentar o local após a jornada de trabalho; ainda assim, o local abrange uma variedade de tipos consideráveis, em geral mais brancos e de classe social média ou superior. O tipo repete-se na região final do Bessa, nas imediações do antigo bar Peixe Elétrico, este sim, frequentado majoritariamente por pessoas que não apenas tem um estatuto social mais abastado, como também tem seus corpos mais adequados aos padrões de beleza então vigentes. Não raro encontram-se homens “sarados”, “bombados” e “barbies”, como são costumeiramente classificados nas categorias nativas.